Lucia Machado Haertel
O
que nos leva a tomar iniciativas? Estudar ao invés de ir pra balada? Levantar
cedo e ir trabalhar ou malhar? E por que algumas pessoas têm uma dificuldade
enorme de fazer tudo isso? Por que, afinal, alguns adolescentes passam o dia na
preguiça ou em atividades que não acrescentam uma única sinapse útil
ao cérebro, sempre dizendo que amanhã começarão a estudar? Por que é tão
difícil interromper uma atividade prazerosa e otimizar o tempo?
O
cérebro, explica! Ou melhor, nossos núcleos accumbens explicam!
Tais pequenas estruturas cerebrais são o centro do nosso sistema de recompensa,
o qual surgiu durante a evolução para premiar com sensações de prazer e
felicidade as atitudes necessárias para a sobrevivência da espécie, como saciar
a sede, a fome e o desejo sexual. Afinal, se a atividade sexual não fosse prazerosa,
a espécie humana estaria fadada à extinção!
O
homem primitivo não tinha lá muito o que fazer além de comer, beber e se
reproduzir, mas tinha que passar o dia todo tentando achar seu alimento. Portanto,
tinha que iniciar a busca logo, antes da fome bater. Observa-se aqui que o
sistema de recompensa não seria suficiente se a pessoa não antecipasse a necessidade
e tomasse a iniciativa.
A natureza resolveu essa questão da iniciativa ou motivação ativando levemente o
sistema de recompensa na iminência de algo bom acontecer. A antecipação da
possibilidade de recompensa faz com que o indivíduo tenha motivação para buscá-la,
ou seja, sair para caçar ao invés de passar o dia todo dormindo na caverna. Ao
vencer o desafio - e o medo - o núcleo accumbens é fortemente ativado pela
dopamina. Caçar um animal que o alimentasse
por uma semana era a coisa mais emocionante e prazerosa que poderia acontecer na
vida de um homem primitivo. Que felicidade! E tudo isso garantido pela dopamina
no cérebro.
O
que pode ter mudado tanto em 200.000 anos? Certamente não foi o cérebro! Ao
achar água na torneira, comida na geladeira e parceiros sexuais nas redes
sociais, as motivações primordiais de sobrevivência desapareceram. O mundo
moderno criou muitos gadgets que trazem prazer imediato – IPhone, IPad, ITudo -
sem esforço algum. Os pais ainda são obrigados a ter motivações básicas de
sobrevivência (como trabalhar para pagar as contas dos filhos), mas o que será dos
adolescentes que tem acesso a tudo isso? Como terão motivação para pensar no
futuro?
A constante ativação do núcleo accumbens por um
excesso de atividades que trazem prazer imediato dificulta muito a realização
de atividades em que a recompensa só vem em longo prazo, como atividade física
diária para perder peso (é mais fácil ir atrás de algum remedinho milagroso!)
ou estudar um ano inteiro para passar direto. Pensar no vestibular então... É
muito mais fácil ficar na internet enganando sua consciência com pensamentos
como “só mais uma conversinha no whats e é só hoje, amanhã começo a estudar”.
Quando
o sistema de recompensa ou de motivação dos filhos não se ativa de jeito algum,
existe a opção de usar o sistema de punição que também existe no cérebro. O
medo da nota baixa, ou ainda pior, de ficar sem internet, ativará outros
sistemas cerebrais que também levarão à iniciativa, como a amígdala cerebral
(responsável pelo medo) e as habênulas que serão responsáveis pelo sentimento de
tristeza quando a punição acontecer. Uma
pitadinha de ativação da amígdala cerebral, o centro do medo, é necessária para
a iniciativa, pois gera aquela preocupação normal que leva à responsabilidade,
como a de levantar cedo da cama para cumprir todas as obrigações do dia.
Tudo
no cérebro é uma questão de equilíbrio entre neurotransmissores e diversos sistemas
antagônicos como o de recompensa, o de punição e o do medo, entre vários outros,
que determinam os cinquenta tons possíveis da personalidade humana. É
importante ressaltar que punições devem ser usadas com cautela. Não é apenas a
punição imposta pelos pais que funciona. O que importa na verdade é seu efeito no
cérebro, o sentimento e o estado emocional que surge em resposta a ela. Este,
por sua vez, depende da “química cerebral” de cada um. Enquanto alguns alunos já
se sentem auto punidos com uma nota baixa e não precisam de castigo algum - mas
sim de ajuda, outros só se mexem da cama após uma reprovação. Nestes casos nem
a punição funciona!
O
que fazer então? Como usar a neurociência a nosso favor?
Como
ninguém gosta de trabalhar de graça, o cérebro também não! Seu pagamento se chama
dopamina, e quanto mais dopamina, maior a sensação de recompensa. Um pouquinho
dela liberada antes da ação nos dá motivação e nos faz tomar as iniciativas. O
cérebro humano é movido a desafios. Traçar um objetivo ou estabelecer um
desafio ativa o sistema de recompensa e impulsiona o indivíduo para alcançá-lo.
A grande dica é criar o desafio na medida certa. Se for fácil demais, gera
desânimo e se for muito difícil, o indivíduo desiste de tentar porque o cérebro
antecipa que a recompensa não virá. O tamanho do objetivo depende da idade da
criança e de suas habilidades. Nas menores comece com pequenos desafios, como
ler 15 minutos e estudar meia hora,
mantendo o uso diário do computador em horário determinado. Sente-se junto à
criança e ajude-a a estudar no início. Perceba suas habilidades e dificuldades,
incentive-a, faça-a acreditar que é possível. Uma primeira nota boa, neste
caso, a recompensa dará a ela um grande prazer e satisfação. A sensação de
prazer será memorizada pelo cérebro que naturalmente vai querer repetir a dose!
Essas atitudes transformarão um ciclo vicioso de maus resultados, desânimo e
desmotivação num ciclo virtuoso! Pequenas vitórias aumentam a motivação para vencer
desafios maiores, com muita dopamina e felicidade. É por isso que o hit do
momento em aprendizagem chama-se motivação!